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quinta-feira, 23 de junho de 2022

Por que eu cancelei o Nerdversário

Mês passado eu publiquei aqui que faria um aniversário nerd, o Nerdversário, conectado a uma campanha de crowdfounding para publicação das duas primeiras revistas do meu universo de super-heróis. Até cheguei a começar o esquenta da campanha, mas depois parei. E agora vou revelar o porquê desse cancelamento. Ou os porquês.

Quadro de uma das tirinhas da série "Operação Nerdversário" que era uma espécie de "esquenta" da campanha

Primeiramente, havia um tempo muito curto para realizar a campanha e finalizar a tempo de ter as revistas impressas já na data do meu aniversário, que é daqui a uma semana. Na época faltava menos de dois meses e embora parecesse muito tempo, na verdade não era, considerado que eu precisaria de pelo menos um mês e meio só para realizar a campanha, fora os prazos de gráfica.

O segundo porquê é que eu ainda estou desenhando duas das HQs que comporão essas revistas e, por conta dos meus compromissos artísticos o tempo estava muito curto para desenhar do jeito que gosto, com calma e muuuuito perfeccionismo. Como falei antes, as revistas serão edições ampliadas das publicadas digitalmente, ganhando HQs novas e inéditas, que ainda estou produzindo.

O terceiro porquê é algo menos objetivo, mas não menos relevante, que é o fato de eu estar, justamente por conta de meus compromisso artísticos, um tanto afastado do meio quadrinístico, o que poderia comprometer o engajamento na campanha. Enquanto meus colegas autores de todo o país estão presentes o tempo todo em postagens, lives e fazendo crossovers, eu tenho estado mais distante desse movimento e portanto sendo menos visto.

E tem ainda um outro pormenor. Minhas revistas são inícios de arcos de origem, não tem histórias de muita ação nem cenas de grande impacto, que costumam ser mais atrativas para o público leitor de super-heróis. Isso também poderia comprometer o interesse pelas publicações e representava, ao meu ver, um risco a mais de não bater a meta.

Mesmo sem muitas cenas de ação, as páginas estão ficando lindas!

Assim, achei por bem deixar a campanha para um outro momento e preparar tudo com mais calma, para que seja realmente eficiente na captação dos recursos e no engajamento do público para o lançamento das revistas.

O aniversário vai ser normal mesmo, algo mais intimista. Mais ainda gosto da ideia de um Nerdversário e quem sabe eu não faço ele no ano que vem?

Elinaudo Barbosa

domingo, 8 de maio de 2022

Adeus ao mestre George Pérez

Na sexta-feira, 6 de maio, partiu para o multiverso espiritual o grande artista George Pérez, uma das minhas principais influências como quadrinista. Como já falei em outros posts foi a obra Crise nas Infinitas Terras, magistralmente desenhada por ele, que me despertou o desejo de criar um universo de super-heróis.

George e a icônica capa da Crise nas Infinitas Terras

Eu vi muito pouco do trabalho dele na Marvel, mas na DC li muita coisa, como a fase dos Novos Titãs, onde criou os personagens Cyborg, Ravena, e Estelar e transformou o Robin Dick Grayson no Asa Noturna. E li e reli tantas vezes a saga que me inspirou, a clássica Crise. Tanto Crise quanto a fase dos Titãs foi feita em parceria com o roteirista Marv Wolfman. Os dois formavam uma dupla perfeita que nos rendeu grandes e inspiradoras HQs.

E aqui recriando a cena com uma fã que definitivamente ganhou o dia

Mestre, vá em paz e obrigado por me inspirar.

Elinaudo Barbosa


domingo, 1 de maio de 2022

Aniversário com quadrinhos e campanha no Catarse

Neste ano de 2022 resolvi fazer meu aniversário de uma forma diferente. Vou aproveitar a data para realizar um sonho que venho alimentando nos últimos anos: publicar meus quadrinhos em versão impressa. Para isso, farei uma campanha de financiamento coletivo, com início agora em maio e um evento no finalzinho de junho para início de julho, onde vou celebrar meus 47 anos lançando as primeiras HQs do meu universo de super-heróis, o Universo EB, em papel.

Protótipo de uma das revistas que vou lançar no meu Nerdversário

Este ano faço Nerdversário

Pois é. Além do artista plástico que pinta quadros multicoloridos, do cara que passou anos atuando nas causas socioambientais, também sou nerd daqueles que não só gostam de super-heróis em plenos 46 anos de idade, como tem seu próprio universo. E esse nerd, que há 6 anos e meio vem criando e desenhando personagens e histórias publicadas na internet, agora quer lançar também essas criações em revistas de papel.

Para quem começou ainda na infância a desejar ser um quadrinista, é a realização de um grande sonho! Tudo bem que naquela época eram outras ideias, outras propostas, mas a sensação de ter um quadrinho feito por mim materializado em uma revista parecida com aquelas que eu lia e me inspirava, é um sonho recorrente, que mesmo eu tendo deixado de lado para fazer outras coisas ou até dito pra mim mesmo que desisti, sempre esteve lá, guardadinho em algum lugar da minha mente (e do coração, pois sou canceriano!), esperando pelo momento de se tornar realidade.

Seis anos e meio criando histórias que agora quero levar para o impresso


Outro desejo que venho segurando nos anos recentes, por conta de tudo que tem acontecido, é celebrar meu aniversário. Quem me conhece sabe que eu adoro que minha data seja um evento especial. Assim resolvi unir esses dois desejos e realizar o Nerdversário, uma ação que que inicia com uma campanha de financiamento coletivo para custear a impressão e publicação das duas primeiras revistas do meu universo de heróis e se conclui com um evento onde comemorarei meus 47 anos lançando as revistas ao lado dos amigos, parceiros e admiradores da minha arte e dos meus personagens.

Meu presente de Nerdversário será a sua contribuição

A campanha de financiamento coletivo será através da plataforma Catarse, bastante conhecida e usada por autores nacionais de quadrinhos. O presente que quero dos amigos e admiradores do meu trabalho é a participação na campanha, comprando os pacotes de recompensas e também divulgando a iniciativa em suas redes de amigos. E o legal disso é que você me presenteia através da sua contribuição e ganha também um presente, que são as revistas e brindes do pacote de recompensa que escolher!

Como dizem naquelas propagandas de loja, a gente faz aniversário, mas quem leva o presente é você!

As duas revistas que vou lançar

Através da campanha do Nerdversário farei a publicação impressa de duas das primeiras revistas do selo EB Comics: Universo EB 1, que lancei na internet em 2017 e Brasiliana 1, publicada digitalmente em 2018. Ambas as revistas, que originalmente tinham 12 e 14 páginas de quadrinhos receberão HQs inéditas, passando a ter 32 páginas cada na versão impressa e ainda ganharão novas capas.

Universo EB, a revista que leva o mesmo nome do meu universo, foi criada para ser o almanaque dos heróis da EB Comics. A nº 1 digital trouxe a primeira HQ da Gata Púrpura e ainda apresentou o Doutor do Tempo e a Cartomante. A nova edição terá, além dessas histórias, os dois primeiros capítulos da origem da heroína Estrela Azul.

Brasiliana, que saiu no digital com o capítulo 1 da origem da heroína verde-amarela, sairá impressa trazendo também o capítulo 2, onde ela bota pela primeira vez o uniforme e inicia sua jornada heroica em busca de elucidar o assassinato do pai, prefeito da cidade fictícia de Nova Cruzeiro, e as diversas denúncias de corrupção que começaram a pipocar na imprensa.

Universo EB e Brasiliana ganharão mais páginas e novas capas

O começo de tudo

Como já falei em outros posts, o Universo EB é um universo todo interconectado, onde as histórias fazem parte de uma cronologia. Essas duas revistas são o começo de tudo para o leitor. As histórias que aparecem nelas continuarão nas edições seguintes e em títulos solo dos personagens.

Ao participar desse projeto você não estará me presenteando só com a publicação impressa dessas duas revistas, seu presente será muito maior. Você vai estar me ajudando a iniciar uma jornada tão heroica quanto as dos meus personagens, que é contar em quadrinhos uma história de todo um universo de super-heróis brasileiros que venho criando e desenvolvendo ao longo dos últimos 6 anos e meio.

E você e todo mundo ganham de presente um universo infinito de heróis e heroínas, vilões e vilãs e diversos coadjuvantes com histórias e sagas que acontecem no Brasil e fora dele, na Terra e do outro lado da galáxia, no tempo presente, no futuro e até na Idade Média.

Histórias que um dia, quem sabe, poderemos ver na tela do cinema ou numa série de televisão ;)

A aventura do Nerdversário está começando!

Nos próximos dias irei fazer o lançamento da campanha na plataforma Catarse. A partir daí você poderá contribuir com o projeto tanto adquirindo seu pacote de recompensas quanto divulgando a campanha através das suas redes e entre os seus amigos e pessoas interessadas em boas histórias de super-heróis.

E, claro, se preparar para marcar presença no dia do evento do meu Nerdversário!

Vamos juntos para o alto e avante!

Elinaudo Barbosa
domingo, 24 de outubro de 2021

Priorizando os quadrões, adiando os quadrinhos

Essa foi uma decisão que tomei ano passado e estava em curso até o início deste ano. Aí houve o que houve com meu pai e eu dei uma longa pausa nas pinturas e tudo relativo a elas. Com isso acabei me dedicando bastante à produção dos quadrinhos, como disse em outro post. Porém, ao voltar à ativa social e comercialmente falando, vieram as exposições, a produção dos quadros e os novos projetos, atividades que estão me tomando todo o tempo de produção artística. 

Pincéis a todo vapor

Nesse período off eu produzi várias páginas de HQs e refiz o planejamento editorial do selo EB Comics. Com todo o material produzido e as novas edições planejadas, quase optei por inverter o planejamento para os próximos três ou quatro semestres, levando o foco para os super-heróis com publicação de revistas impressas e início do processo de transmídia. Mas, estrategicamente falando, manter a decisão do ano passado é bem melhor.

Algumas das páginas finalizadas este ano.


Não é tão simples construir um universo

Quando lancei o Universo EB em 2015 eu achava que logo ia fazer vários lançamentos, mas...  Ufa! Desenhar HQs é um trabalho demorado! Tenho que entregar os pontos e aceitar que não dá pra fazer um universo inteiro de HQs sozinho. E quando se quer um universo transmídia, é mais trabalho e tempo ainda que necessita para que tudo aconteça.

Minha intenção sempre foi eu mesmo desenhar todas as HQs que estabeleçam a base canônica do meu universo e só depois passar a contar com outros quadrinistas na produção das HQs. A realidade, porém, me mostrou que é preciso rever isso, o que farei a partir de 2022.


Foco nos quadrões

Assim sendo, o foco está nas pinturas, aproveitando a carona da retomada das atividades presenciais. Tenho duas séries de quadros em andamento, planos para uma terceiras e, como falei na entrevista que dei pra coluna Frisson, ainda tenho planos de pintar ao vivo em alguns locais. Vai ser uma virada de ano bem movimentada.

E depois da virada, segue o movimento pelo ano todo!

Mas é claro que não vou deixar tudo totalmente na geladeira. Como já falei aqui antes, quadrinhos são parte de mim e quando passo tempo sem desenhá-los sinto muita falta. Assim, de vez em quando vou dar uma paradinha e desenhar uma ou duas páginas. Além disso, algumas conversas que venho travando sobre parcerias serão continuadas, preparando o terreno para os próximos passos.

Contando sempre com a paciência de quem está esperando as novas HQs dos meus heróis e heroínas.

Elinaudo Barbosa

sábado, 18 de setembro de 2021

Será o Batman aparecendo no céu do Bom Jardim?

Vou aproveitar que hoje é o Batman Day, evento anual organizado pela DC Entertainment para celebrar e promover o Batman, pra falar de uma aparição nos céus do Bom Jardim, em uma HQ que publiquei recentemente, nas duas páginas que finalizam a revista digital Universo EB 2.

Enquanto isso, nos céus do Bom Jardim...

Na cena, a Gata Púrpura se depara com uma estranho clarão no céu e no meio desse clarão pode ser vista uma cena que lembra os clássicos desenhos do Batman, com o herói de Gothan perseguindo algum de seus vilões. Seria um crossover do Universo EB com a DC? Um portal entre Fortaleza e Gothan City? 

Na verdade se trata de um personagem que criei há mais de duas décadas, num tempo em que eu era bem ligado no homem-morcego. Aí resolvi fazer essa cena propositalmente muito parecida, onde um leitor desavisado poderia achar que era mesmo o Batman que a Gata Púrpura estava vendo no céu. 


Um herói de um universo anterior ao Universo EB

Lá pelos anos 1990 eu era muito, muito fã do Batman, tanto que cheguei a ganhar uma festa de aniversário temática cujo bolo era o símbolo clássico do homem-morcego. Foi nesse tempo que eu criei minha primeira leva de super-heróis em parceria com o amigo Erivando Costa. Aí abandonamos tudo e os desenhos dos personagens acabaram se perdendo, exceto um, o personagem que criei inspirado no morcegão da DC.

Na época eu queria um personagem realmente parecido com o Batman, bem naquela linha de vou copiar o seu trabalho, mas não vou fazer igual. Cores, formas, jeito de agir, tipo de vilões, tudo iria ser bem parecido, embora não fosse uma cópia exata. O nome dele? Pássaro Noturno.

O herói será introduzido no meu universo atual em uma saga futura que ainda está só no argumento inicial, mas que será a abertura do Multiverso EB, com terras diferentes e realidades paralelas. Aí sim, será explicado direitinho o que significa aquela aparição no céu do Bom Jardim.

Mas já dá pra fazer umas teorias juntando a pequena HQ e o que escrevi aqui.

Feliz Batman Day.


Elinaudo Barbosa

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Como criei a heroína Gata Púrpura

Eu adoro gatos, sou doido por de histórias de super-heróis e a cor roxa é uma das minhas preferidas. Pois bem, a Gata Púrpura, primeira heroína que lancei, nasceu basicamente desses três gostos. E da minha vontade de contribuir de alguma forma com a causa animal.

A Gata bem misteriosa na capa da primeira publicação.


Os animais também precisam de heróis

Houve um período em que eu estive bastante próximo da causa animal e pude ver diversos relatos do pessoal que atua no dia-a-dia cuidando dos bichos abandonados, fazendo resgates e lutando contra os maus-tratos. Um desses relatos em particular havia me me chamado a atenção. Tratava-se do envenenamento de vários gatos que viviam no polo de lazer Gustavo Braga, no bairro Damas, aqui e Fortaleza.

Print de notícia da época

Uma protetora que alimentava os gatos de lá fez um desabafo emocionado, dizendo que não era a primeira vez que aquilo acontecia e que ninguém estava fazendo nada para encontrar e responsabilizar os culpados. 

Vendo a notícia e os relatos eu pensei no quanto essa história poderia ser diferente se existisse um super-herói na cidade para combater esse tipo de crueldade. Como seria legal ter um herói ou heroína que defendesse os animais.

Um ano ou dois depois eu botei na cabeça que ia criar meu próprio universo. Dentre as muitas ideias de personagens, relembrei da história do bairro Damas e decidi que criaria um herói defensor dos animais. E que teria poderes de gato!


Eu queria criar um gato (ou gata) do bem

Eu sempre achei os gatos pessoas muito legais e me incomoda a forma estigmatizada como eles são vistos e representados no imaginário das pessoas e nas histórias. Com raras exceções, gatos e gatas são colocados como vilões, ajudantes de vilões ou, no máximo, como anti-heróis. É o gato da bruxa nos contos de fadas, o gato que quer a todo custo jantar o pobre ratinho no desenho ou a gata ladra nos quadrinhos de heróis, que até pode ajudar o herói de vez em quando, mas está sempre pensando no próximo golpe. Daí, quando resolvi criar meu universo decidi que haveria uma representação felina heroica.

Fui juntando as ideias: um herói felino, que defendesse os animais e que usasse uniforme com a cor roxa. Faltava definir o gênero.

Quem conhece a causa animal sabe que a maioria das pessoas que atua nela são mulheres, então seria mais que justo que esse personagem fosse do gênero feminino. 

Foto de 2013 após uma reunião sobre os gatos do parque do Cocó. Os homens são minoria no movimento de proteção aos animais.


Roxo é legal, mas...

A ideia estava ganhando forma, estava surgindo a defensora dos animais, a incrível Gata Roxa!

Não, pera...

Gata Roxa não soa muito bem, né? Parece que a gata caiu do prédio ou levou uma surra do vilão e ficou toda roxa. Vamos repensar esse nome...

Aí lembrei que a tradução de roxo pro inglês é pourple. Púrpura! Era isso! Púrpura tem uma sonoridade muito mais legal em português do que roxo. De volta ao anúncio: eis a defensora dos animais, a incrível Gata Púrpura!

Viu como ficou melhor?

Pra não fugir totalmente do roxo, coloquei as duas cores no uniforme dela. Assim, se ela for traduzida para o inglês como Pourple Cat, não vai ficar errado. 

Pois é, pourple não é púrpura. Púrpura em inglês é crimson. Crimson Cat também não fica nada mal!


Arte conceitual e primeira HQ

Decididas as características, era hora de ir para a prancheta. Fiz alguns esboços e elaborei uma arte conceitual já bem próximo do que seria o design definitivo do uniforme.

Primeira arte conceitual da Gata Púrpura

Depois refinei um pouco mais e parti para o desenho da primeira HQ. Foi um trabalho pesado, virei noites fazendo. Havia muito tempo que não desenhava quadrinhos e eu ainda não sabia usar direito a mesa digitalizadora. Desenhei tudo em papel e só a colorização que fiz digitalmente. Era outubro de 2015.

Dia 13 de novembro a Gata ganhou vida nos quadrinhos com o lançamento de EB Comics 1, uma revista digital de 11 páginas com a HQ Uma Gata no Telhado, onde nossa heroína salva um gatinho e dá uma surra no homem que queria matá-lo.

A arte-final em papel e o quadrinho finalizado com colorização digital. Novembro de 2015.

Depois, já em 2017, eu resolvi mudar o título de "EB Comics" para "Universo EB" e republiquei a HQ em uma nova revista digital lançada em janeiro daquele ano.


Ia ser uma história maior

O plano para a primeira HQ era fazer uma história maior, contando uma noite toda de atuação da heroína na cidade de Fortaleza. Mas eu tinha outros trabalhos, desenhava muito lentamente ainda, resolvi fechar a narrativa nessa cena. A continuação da noite só veio quatro anos depois, quando lancei Gata Púrpura 1 com uma nova HQ, que continua exatamente do ponto onde a primeira parou.

Agora estou trabalhando em uma nova HQ que fará parte da versão impressa de Gata Púrpura 1, que contará com 32 páginas e deve ser lançada até o final do semestre.

Essa e outras novidades eu conto com mais detalhes em outros posts, que esse aqui já ficou longo demais e eu nem falei ainda do alter-ego da heroína.

Elinaudo Barbosa

segunda-feira, 12 de julho de 2021

O que consegui produzir durante o luto

Uma área que quase não parei nesse período de luto foram os quadrinhos. Pelo contrário, tirando os primeiros dias, que parei total, quando aliviou um pouco eu me foquei bastante neles e tenho sido bastante produtivo nesses meses. Isso porque, desde que eu era pequeno, sempre tive os quadrinhos não só como expressão artística, mas também como um refúgio.

Cena de época da HQ de origem da heroína Estrela Azul, que finalizei recentemente 

Quando criança, morando no interior, não havia muitos confortos e nem entretenimento. Era a lida do dia, escola e à noite luz de lamparina. Logo que aprendi a ler e a desenhar, comecei a copiar os desenhos das revistinhas Disney que eu lia e criar novas histórias. É bem verdade que eu nunca finalizei nenhuma, mas imaginei várias enquanto desenhava folhas e folhas de papel sob a luz do candeeiro e aquilo era o meu universo particular, onde eu podia ser criativo sem as limitações da rotina e do ambiente.

Muito tempo depois, em 2015, eu tive uns problemas com clientes atrasando pagamentos que me impediram de trabalhar a marca Amo Gatos, que eu acabara de lançar, da forma como queria. Isso me rendeu uma grande frustração e fiquei uns meses meio borocochô. A saída foram os quadrinhos. Enquanto buscava me recuperar e retomar a Amo Gatos, fu vendo filmes e séries de super-heróis e terminei por decidir criar meus próprios personagens. Em novembro do mesmo ano lancei minha primeira HQ, da Gata Púrpura.

A fase ruim passou mas os quadrinhos permaneceram e desde então venho desenvolvendo o Universo EB na medida do possível, ainda tratando como um hobby. É por isso inclusive que tem demorado para sair novas HQs, pois só uso o tempo vago para produzi-las.

Aí veio o período de luto, eu sem clima pra pintar, como falei no post anterior, me embrenhei nos quadrinhos, meu querido refúgio. Nos primeiros dias, sem clima para cores, fui desenhando HQs já roteirizadas e continuando as que estavam em produção desde ano passado. E agora nas semanas mais recentes voltei a colorir. Com isso, finalizei desenho e cores de uma HQ, desenhei outra e estou com mais duas em produção avançada (que agora voltam a dividir o tempo com a pintura e outras atividades que estou retomando).

Algumas das páginas que fiz nesses meses de maior recolhimento

Esse período também me fez refletir que os quadrinhos são parte essencial de mim. Mais que um refúgio para as horas difíceis, são uma expressão da minha criatividade que se expande na vastidão do universo que estou criando e que quero tornar mais que um hobby, quero que se torne um negócio.

Não é um desejo novo, é claro. Já imaginei cada personagem, cada história, de modo que possa funcionar comercialmente, mas, ocupado com outras coisas, vinha postergando a iniciativa e ficando só no hobby de desenhar as HQs. Agora quero ir adiante e já comecei a dar alguns passos na busca de parceiros e na criação de estratégias que possam tornar a EB Comics mais que o hobby do seu criador.

Elinaudo Barbosa

sábado, 30 de janeiro de 2021

Da lamparina ao computador: meu sonho de ser quadrinista

Hoje é Dia do Quadrinho Nacional, data criada para dar visibilidade à nona arte brasileira. Este ano, que não tem nenhum lançamento da EB Comics para a data, vou aproveitar o ensejo para contar como entrei nessa história, começando lá pelos sete anos, quando vi quadrinhos pela primeira vez e pouco depois já dava os primeiros passos para me tornar um quadrinista, até chegar no atual Universo EB de Super-heróis.

Esboço a lápis do primeiro quadrinho da Brasiliana e sua verão final, desenhada e colorida digitalmente.

Só fazem cinco anos que lancei minha primeira história em quadrinhos, da personagem Gata Púrpura, mas o sonho de ser autor de quadrinhos vem desde a infância. Lá pelos seis, sete anos de idade, período em que eu vivia na nossa casa do interior, eu ganhei de presente algumas revistinhas da Disney. Essa é a minha primeira lembrança de ter tido contato com quadrinhos e foi paixão à primeira lida. Nesse período eu estava aprendendo a ler e também a desenhar, estimulado pela professora que me dava aulas em casa, pois não havia escola próxima.

Além de não ter escola, também não havia luz elétrica na localidade, então eu vivia bem isolado do mundo. Meu primeiro — e único — contato com a cultura POP dos anos 1980 eram naquele momento as revistinhas Disney, que logo viraram meu refúgio intelectual e artístico particular. Eram tempos de trabalho infantil naturalizado, que começava cedinho e ia até o final do dia. De manhã eu era o menino da porteira, botava os bezerrinhos pra dentro quando meu pai ia ordenhar as vacas, e depois seguia com a lida da casa, ajudando minha mãe em diversas tarefas que incluiam cuidados da casa, animais do quintal e também ajudava com meus irmãos menores.

Já um pouco mais grandinho, aprendendo a andar de bicicleta, fiz um teste de nível e passei para a terceira série. Passei a estudar na pequena escola José de Sousa Albuquerque, em Lagoa do Juvenal, povoado que fica a quatro quilômetros de onde era a minha casa. Com a escola e os afazeres de casa, sobrava a noitinha, entre o jantar e a hora de dormir, para ler e desenhar, o que eu fazia sobre o móvel da máquina de costura Singer da minha mãe, iluminado pela pequena lamparina da sala.

Era a luz da lamparina que alumiava meus primeiros desenhos.


Nascia um sonho movido a querosene e papel reaproveitado

À medida que fui avançando na leitura e entendendo os enredos das HQs do Pato Donald, Mickey e o meu preferido de sempre, Tio Patinhas, eu passei a ter vontade de criar minhas próprias histórias. Ali surgiu o sonho de quando crescer trabalhar desenhando HQs. Em algum momento alguém me ensinou que se eu umidificasse o papel com querosene, ele ficava meio transparente e eu podia copiar os desenhos das revistinhas como se fosse um papel vegetal.

Como não tinha muito papel à minha disposição, eu recolhia os forros brancos das embalagens de farinha de milho e também das carteiras de cigarros  (ou maços, pra você que é do sul). Esticava os papéis, formava as folhinhas e, com um algodão embebido no querosene da lamparina, ia desenhando os personagens e montando eles em cenários e histórias que eu criava. Não lembro de ter finalizado nenhuma história, mas devo ter desenhado cenas suficientes para muitas. A única que ainda tenho memória tinha como enredo uma corrida de carros reunindo todos os personagens de Patópolis, que começava na cidade dos patos e terminava em algum lugar pelo mundo, lugar esse que nunca decidi, assim como também nunca estabeleci o que seria o prémio.

Nessa época eu cheguei a sonhar que quando crescesse iria desenhar pra Disney fazendo grandes histórias do Tio Patinhas e companhia. Aí, chegando nos dez anos, vim morar em Fortaleza com minha mãe e irmãos. Passei a estudar na escola Júlia Alves  —  que quando vi pela primeira vez me pareceu imensa!  —  e uma nova fase iniciou também para o futuro quadrinista, já que foi nesse período de mudança de casa que passei a ter acesso a outros quadrinhos, como Tex, Mandrake, Fantasma etc. E, claro, quando cheguei aqui, tinha a televisão, com muitos desenhos e também séries com caçadores de recompensas e suas picapes invencíveis.

A famosa picape do seriado Duro na Queda.


A era das picapes voadoras

Na escola nova me enturmei com os meninos nerds da minha sala de telensino da quinta série, dentre eles outro desenhista, que se chamava Francisco (não lembro o resto do nome dele). A gente estava no mesmo nível de desenhos e iniciamos uma parceria que ao mesmo tempo era uma concorrência, desenhando não exatamente quadrinhos, mas criando histórias com desenhos. Não sei de onde tiramos a referência, mas cada um criou uma picape tecnológica que voava, atirava mísseis, laser e o que mais a gente inventasse na hora. E a gente passava o recreio e também parte das aulas desenhando situações onde nossos protagonistas e suas caminhonetes tecnológicas disputavam que era o mais "invocado" dos dois.

A vida escolar avançou, outras coisas aconteceram e eu perdi contato com aquela primeira turminha da qual fazia parte o Francisco. O sonho de ser quadrinista da Disney foi ficando para trás e agora também se encerrava a era das picapes voadoras. Com a chegada da adolescência vieram novos quadrinhos, os dos super-heróis da  Marvel e da DC, além dos heróis do cinema americano, como o Rambo e das séries e desenhos animados, como Thunder Cats e Jaspion. Lendo todos os quadrinhos que conseguia emprestados (eu não tinha dinheiro pra comprar) e consumindo a vasta programação infanto-juvenil da TV da época, eu agora desenhava basicamente super-heróis.

Saem as picapes voadoras, entram os homens voadores

Em um concurso de desenho da escola, acabei conhecendo meu novo parceiro de desenho, o Erivando Costa, que também era fã de super-heróis e principal fornecedor de novos quadrinhos para minhas leituras, isso lá pelo começo dos anos 1990. Foi nessa época que surgiu pela primeira vez o desejo de ter um universo autoral de super-heróis, desejo esse que aumentou significativamente quando li a magistral saga Crise nas Infinitas Terras. Erivando compartilhava do mesmo sonho e logo passarmos a criar heróis e heroínas inspirados na infinidade de personagens que apareciam na saga.

Crise nas Infinitas Terras me inspirou a ter um universo de super-heróis!

Isso rendeu um universo de personagens, alguns criações minhas, outros dele e outros em co-criação. E, como não podia deixar de ser, resolvemos criar HQs do nosso agora vasto universo. Pelo menos era o que a gente queria fazer, pois na hora da prática a teoria é outra. Desenhar quadrinhos naquela época era lápis, papel, nanquim e muita paciência pra produzir histórias que, se você não tivesse muito — bem muito! — dinheiro pra montar uma editora, a única forma de levar ao público seria fazendo fanzines e distribuindo nas proximidades.

E foi essa constatação de que teria que desenhar tudo no papel, só tendo como canal de distribuição os fanzines xerocopiados, que me fez, naquele momento, desistir da ideia de ser quadrinista. Isso porque a ideia lá da infância, de trabalhar com personagens de autores consagrados, fossem da Disney ou das editoras de super-heróis, eu já havia descartado bem antes. Queria fazer se fosse o meu (ou nosso). Como vi que não dava, decidi que aquilo ali não era pra mim e fui cuidar de outros interesses e sonhos como a causa ambiental, que ocupou bons 20 anos da minha vida.

Infelizmente eu não sei aonde foram parar os desenhos dos vários heróis e vilões que desenhamos, pois só me restou o de um único personagem das dezenas que criamos.

Mas nada como uma década depois da outra, né?

Tony Stark e a tecnologia

Se foram os personagens da DC que me inspiraram a criar um universo de heróis, foram os da Marvel que me estimularam a voltar muitos anos depois. A bem da verdade eu nunca deixei de pensar na ideia de produzir quadrinhos, mas era uma coisa que passava pela cabeça e sumia enquanto eu fazia as milhares de coisas que um multipotencial inventa ao longo da vida. Isso até eu parar pra ver Homem de Ferro e o nascimento do universo Marvel nos cinemas e umas séries novas do Universo DC que apareceram na TV. Ali bateu de novo a vontade forte de criar heróis e histórias de heróis!

O avanço da tecnologia trouxe uma nova era de possibilidades para os super-heróis de todo o mundo.

A vontade bateu forte, porém eu não comecei logo de cara. Além de ter perdido as criações antigas, havia a lembrança da dificuldade que eu encontrei de desenhar em papel. E havia ainda um outro fator a considerar, que era a certeza que todo mundo tinha — e que muitos ainda tem — de que quadrinhos de heróis não dão certo no Brasil. Com tantos contras e só minha vontade a favor, fui pesquisar o que tinha de super-heróis no Brasil e como andava o mercado global para esse segmento.

Essa pesquisa me trouxe resultados que me animaram a retomar meu antigo sonho. Primeiro, percebi que dentre os inúmeros autores do gênero no Brasil, há alguns com chances de irem além das HQs ocasionais. Segundo, que no cenário global o gênero super-herói estava em franco crescimento, puxado pelo cinema e pelas séries de TV. E por fim, a mais animadora de todas: havia tecnologia disponível tanto para produzir os quadrinhos — até programas específicos para criar HQs — e a internet tornara possível distribuir pra qualquer lugar do mundo.

Resolvi meter a cara!

Um novo universo para um velho sonho

Era preciso, porém, criar novos personagens, já que os antigos tinham desaparecido por obra de algum vilão do esquecimento. No final de 2014 comecei a conceber mentalmente o novo universo, que em 2015 foi se materializando aos poucos através dos primeiros desenhos. Em outubro daquele ano finalmente criei corarem e fui desenhar a primeira HQ! Ainda desenhando em papel e digitalizando numa multifuncional emprestada (nos tempos atuais quase ninguém mais tem scanner), virei noites conciliando meus outros trabalhos com a produção da primeira história da Gata Púrpura, que lancei na madrugada de 13 de novembro, uma lua nova, pra ser um lançamento bem auspicioso.

E foi! Rendeu até matérias em sites e blogs locais.

O primeiro quadrinho que desenhei para o Universo EB é uma homenagem ao estilo dos quadrinhos Disney que me inspiraram lá na infância a ser um quadrinista.


De lá pra cá, com a demora natural de quem faz algo ainda por hobby, venho desenvolvendo e expandindo o universo. Produzi algumas HQs que apresentam outros personagens, como a Brasiliana, minha personagem mais conhecida e o estiloso Doutor do Tempo. E venho também, ao longo desse tempo, elaborando um extenso argumento, pois o Universo EB é amplo e todas as suas histórias canônicas são interconectadas em uma cronologia que já perfaz alguns séculos de aventuras.

Brasiliana na exposição Super-heróis do Brasil, iniciativa do Daniel Vardi, fundador da Publigibi.


Outros universos

Ao pesquisar o cenário de super-heróis no Brasil acabei conhecendo muita gente boa que também produz super-heróis, a maioria deles há bem mais tempo do que eu. Gente até que vem da época dos fanzines xerocopiados e acompanhou toda a evolução da tecnologia de produção de quadrinhos até chegar na distribuição por meio digital dos dias de hoje. 

E com isso vieram os crossovers, que são os encontros de personagens de universos diferentes em aventuras fora das cronologias de seus próprios universos. O primeiro foi a participação da Brasiliana na épica saga Força Extrema, idealizada pelo do amigo André Carim, criador da famosa Adriana, a Agente Laranja. Força Extrema tem como protagonistas, além da loura detetive e da minha Brasiliana, outros heróis bem conhecidos, como o Catalogador de Universos, do Lancelot Martins, Lagarto Negro, criado por Gabriel Rocha e a bela Águia Dourada, do Maurício Rosélli Augusto.

Primeira aparição da Brasiliana, ao lado de outros heróis brasileiros, no prólogo da Força Extrema, HQ escrita e desenhada por mim em 2018

Outro que também está na Força Extrema é o Blindado, criação do Rodrigo Pie e que se encontra de novo com minha Brasiliana em uma das HQs da série Encontros Heroicos, saga vivida pelo herói de aço do universo Don Comics e que proporciona encontros com heróis e heroínas de vários universos de autores nacionais. E por fim meu personagem Doutor do Tempo faz participação em uma HQ do Catalogador de Universos pelo selo HQ Quadrinhos, do grande catalogador do mundo real, Lancelott Martins.

Em meio a tantos universos paralelos, o agora quadrinista Elinaudo acabou desenhando quadrinhos até numa vaca! Em 2018 participei da Cowparade, maior evento de arte pública do mundo e que, naquele ano, aconteceu aqui em Fortaleza. Nesse projeto cada artista recebe uma escultura em formato de vaca, em branco, para fazer nela uma pintura. A custa de mais de cem horas de trabalho e várias viradas de noite no galpão de produção, pintei na minha vaca uma história em quadrinhos de um universo criado particularmente para a obra. Nesse universo fantástico que remete ao sertão do Nordeste, trava-se a luta entre a super-heroína Vaca Estrela e a vilã Seca do 15, num típico combate entre heroína e vilã, só que vacas ao invés de pessoas. E de forma metalinguística, a vaca escultura está lendo uma revista em quadrinhos onde aparece a mesma HQ que está pintada nela.

Nem só de papel e PDF vive um quadrinista!

E como eu sou apresentado...

Lá no sertão onde eu desenhava à luz de lamparina, quando alguém gosta de aparecer é chamado de apresentado, que é exatamente o meu caso! Além de adorar falar de mim mesmo (como você pode ver neste post) eu também gosto de figurar nas HQs que desenho. Lá no primeiro quadrinho da Brasiliana, se você reparar bem, sou eu tomando café bem no meio da cena. Também apareço numa história da Gata Púrpura, no prólogo da Força Extrema e até na HQ que pintei na vaca.

Na vaca e na HQ da Força Extrema.
Na vaca eu diria que faço bem mais que figuração. Sou praticamente um ator coadjuvante.
Alguém dê um Oscar pra esse homem!

E vou terminar por aqui, pois o post ficou imenso! Não pensei que fosse escrever tanto, mas à medida que fui digitando um filminho foi passando pela minha cabeça com muitas cenas e lembranças desses quase 40 anos de sonho de ser quadrinista, que nos últimos cinco venho tornando realidade. E você que teve paciência de chegar até aqui, fique certo/a que ainda vou escrever, desenhar e aparecer em muita HQ por aí!

Feliz Dia do Quadrinho Nacional pra mim e para todos os quadrinistas desse continente de talentos criativos que é o Brasil!

Elinaudo Barbosa


quinta-feira, 9 de abril de 2020

Bom Jardim e Escola Júlia Alves em nova HQ da EB Comics

O bairro Bom Jardim e a escola na qual estudei por muitos anos, a Júlia Alves Pessoa, estão na nova história em quadrinhos que acabo de lançar, contando a primeira parte da origem da minha heroína Dama de Aço. A HQ, que faz parte da publicação digital Universo EB #2 mostra a infância da personagem e seu primeiro encontro, ainda menina, com o Doutor do Tempo, que aparece para salvá-la bem em frente à escola.

Realidade e ficção se misturam no antigo pátio da Escola Júlia Alves Pessoa

Essa HQ é cheia de referências e reminiscências pessoais. Quase toda a história se passa no Bom Jardim, bairro onde cresci e vivo até hoje e Ednarda, a futura Dama de Aço, estuda na escola Júlia Alves Pessoa, a mesma que eu estudei da quinta série até o último ano do antigo segundo grau. Eu também tinha uma bicicleta (a minha era azul), que nos primeiros anos os garotos maiores queriam pegar pra ficar brincando e fui algumas vezes “salvo” pelo saudoso Abelardo, presidente do grêmio, mas que fazia as vezes de secretário, coordenador, fiscal de pátio etc.

E eu também ganhei a feira de ciências com um projeto que propus, no meu último ano na Júlia Alves. Eu tinha ido alguns anos pra feira, numa delas como substituto de um aluno que deixou a equipe e fiquei sonhando em ter alguma ideia que chegasse a ser  campeã. Dentre as várias que pensei, uma delas era o protótipo de um hovercraft, que é quase um  carro voador. Terminei optando por um na área de meio ambiente e, juntamente com uma grande equipe de alunos, membros do grêmio da escola, a batalhadora da feira de ciências, professora Eunice Godoi e até o pessoal da ONG Rio Cine, ganhamos a feira.

O quadro onde Ednarda e os colegas são homenageados por ter ganho o prêmio é uma cena bem típica da minha antiga escola, quando a eterna diretora Tia Núbia reunia todo mundo no pátio e fazia verdadeiras conferências. Na cena eu retratei (tentei, pelo menos) a diretoria, os professores Eunice Godoi, Marcos e Ritinha. E na platéia, conversando num grupinho, estou eu e meus colegas da equipe que fez a famosa pesquisa do Rio Maranguapinho. O fotógrafo é o Galba Nogueira,  que na época fazia parte da ONG Rio Cine e participou ativamente do trabalho.

A ponte e os ônibus

A ponte do Bom Jardim é um elemento comum na minha obra artística, seja em desenhos realísticos ou estilizada em marcas e ilustrações. Nessa HQ eu fiz com base nas minhas reminiscências o que seria a ponte nos anos 1980, com o ônibus da antiga Autoviária Freitas passando por ela em direção ao Centro de Fortaleza. Na pequena HQ das páginas finais, um ônibus já dos anos 1990, com a pintura do sistema integrado implantado por Juraci Magalhães.

Uma imagem do que seria a ponte do Bom Jardim nos anos 1980

Hoje a ponte é outra e a escola Júlia Alves também é outra bem diferente daquela onde estudei. A ponte veio mudando à medida que a antiga Estrada do Maranguape foi evoluindo como Avenida Osório de Paiva. Já a escola perdurou por muitos anos quase igual ao que era na minha época, mas recentemente passou por uma reforma completa. O velho prédio foi abaixo, dando lugar a uma moderna escola de tempo integral.

Quem sabe a Dana de Aço não aparece qualquer dia desses na nova Júlia Alves, né? A Gata Púrpura, como vemos no final da revista, vez ou outra anda pelo Bom Jardim.

Leia gratuitamente a revista

Você pode ler a edição completa abaixo ou acessar aqui e fazer o download. Está disponível tanto em PDF quanto no formato CBR. Boa Leitura!

Elinaudo Barbosa

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

O dia do Fantasticman

Hoje, 28 de agosto, foi o dia do Fantasticman no Agosto Heroico. Enquanto eu não faço o desenho dele no Estilo Elinaudo para a série (você pode ver todos na minha fan page no Facebook ou no meu Instagram), compartilho aqui um momento muito especial, quando tive a honra de ser o primeiro quadrinista a roteirizar e desenhar o retorno desse grande herói criado pelo Tony Fernandes, sendo também a sua primeira aparição na Terra, já que o herói cósmico sempre atuou em outros pontos do Universo.

Catalogador, Fantasticman e minha versão feminina do Berillo


Essa HQ, que fiz na maior carreira e não deu pra caprichar tanto quanto eu gostaria, principalmente nas páginas finais, é o prólogo da saga Força Extrema. Foi também a primeira vez que desenhei o Catalogador, do meu amigo Lancelott Martins e aproveitei pra criar essa versão rosinha e fofa do ser de cristal Berillo, uma das inteligências que auxilia o Catalogador.

A Força Extrema é uma super-saga criada pelo André Carim, com argumento dele, meu e do Belardino Brabo e participação de vários artistas e vários heróis do multiverso brasileiro. Brasiliana representa o meu Universo EB na saga, combatendo uma grande ameaça ao lado de heróis conhecidos como Agente Laranja, Lagarto Negro, Papo Amarelo, Águia Dourada e o próprio Fantasticman

O Agosto Heroico é uma iniciativa derivada da Exposição Super-Heróis do Brasil, criada pelo Daniel Vardi. Artistas de todo o país são convidados a desenhar heróis e heroínas brasileiros, sendo um personagem diferente para cada dia do mês de agosto. A ideia tem movimentado bastante as redes sociais e proporcionado uma excelente visibilidade para nossos personagens e universos.

Um personagem ou grupo para cada dia de agosto


O prólogo de Força Extrema foi publicado na edição 17 do Múltiplo, revista editada pelo André Carim. A ele seguiram-se os tomos da saga, com os dois primeiros já publicados e os demais em produção. Além do prólogo eu roteirizei o 1º e o 4º tomos.

De volta ao Bom Jardim

Depois de alguns anos morando em outro bairro, estou de volta ao bairro onde cresci e onde atuei por muito tempo em diversas causas sociais. Essa relação intensa com o bairro também se fez presente na minha obra artística nas diferentes representações da ponte, que sempre considerei como um ícone do Bom Jardim.

A primeira vez que morei aqui foi em um curto período lá pelos 4, 5 anoa de vida. Depois passei alguns anos no interior e voltei em 1986, aos 10 anos de idade. Daí então morei continuamente até 2008, depois alternando períodos aqui e períodos em outros lugares. Mas mesmo quando fiquei fora nunca cortei totalmente minhas ligações com o social daqui. No período mais longo, quando morei em outro bairro de Fortaleza, mantive minha ligação com o movimento pela criação/efetivação do Pulmão Verde do Siqueira e ministrei aulas e oficinas para os jovens do Grande Bom Jardim.

E fiz novas representações da ponte, somando até agora cinco versões diferentes (se não errei a conta) desse ícone do BJ, sendo uma delas em uma história em quadrinhos que ainda está em produção. Essa é um misto de memória e imaginação, pois representa o que seria a ponte e seu entorno em 1986. Se um dia for feita uma série de TV contando minha infância, o texto de abertura vai iniciar com "Bom Jardim, 1986". :)

Esse quadrinho, que faz parte de uma HQ que ainda estou produzindo, é uma imagem do que seria a ponte do Bom Jardim quando cheguei aqui em 1986

Muitos anos de atuação social e voluntária

Hoje, 28 de agosto, é Dia Nacional do Voluntariado, data que me traz muitas lembranças boas, já que praticamente toda a minha atuação nas causas, movimentos e ONGs foi voluntária. Meus primeiros contatos com algo de social foram ainda no final dos anos 1980, mas me engajei mesmo no começo dos 90, quando me integrei ao movimento de CEBs da Igreja Católica, participando das atividades da Área Pastoral do Bom Jardim, além de participar de atividades dos movimentos estudantil e comunitário. Mesmo sem ainda conhecer conceitos como "desenvolvimento local", eu já tinha ali um grande desejo de contribuir para que meu bairro melhorasse social e economicamente.

Em 1993 tive contato com o ambientalismo, através de um programa de educação ambiental do Projeto Sanear. A parte de educação ambiental era realizada pelo pessoal de uma ONG carioca, o Centro Cultural Rio Cine (atual CIMA) e logo me identifiquei tanto com a causa quanto com o pessoal, vindo a fazer amizade com alguns deles.

1994, meu último ano na Escola Júlia Alves Pessoa, foi um dos anos mais intensos, quando tive minha primeira grande ideia de projeto, a pesquisa do Rio Maranguapinho, que acabou vencendo a Feira Estadual de Ciências e inspirou outro grande projeto, esse de longa duração, o Instituto Brasil Verde, como conto nesse post aqui.

Com meus amigos pesquisando o Maranguapinho em meados de 1994

Do Bom ao Grande Bom Jardim

Foi nessa época movimentada que fiz a primeira representação da ponte de que tenho lembrança. Foi para a capa do suplemento O Povo Nos Bairros, do jornal O Povo. Fiz a convite do Ivonilo Praciano, que gostou e me convidou pra estagiar no jornal, onde acabei sendo contratado e trabalhando por dez anos, mas isso é história pra outro post :)

Não tenho foto da época da pintura. Essa é de 2012, pouco antes de eu doá-la para o Ponto de Memória do Grande Bom Jardim

Além do desenho da capa do suplemento, que era dedicado ao bairro onde o projeto acontecia, participei dos eventos e debates, que reuniam lideranças e representantes locais e representantes dos órgãos e poderes públicos. Eu gostei do formato e guardei a ideia de um dia realizar algo parecido.

Dentro do processo das CEBs, havia as áreas pastorais. Meu bairro compunha a Área Pastoral do Bom Jardim, da qual faziam parte outros bairros e comunidades com denominações não oficializadas. Eu não sei se fui o primeiro, mas certamente fui um dos primeiros a pensar em trazer esse enfoque de região para além da atuação pastoral. Avaliei que aquilo daria mais força e projeção para uma região periférica que precisava lutar por uma maior atenção do Estado e levei esse conceito de Grande Bom Jardim para o meu próximo grande projeto.

O Fórum de Qualidade de Vida

Criado o Brasil Verde, nosso foco inicial de atuação foi justamente a área do Bom Jardim e bairros vizinhos. E foi então que propus o primeiro grande projeto para a ONG recém criada, o Fórum de Qualidade de Vida do Grande Bom Jardim, realizado em 1999. Peguei minha inspiração no projeto do O Povo, acrescentei o enfoque ambiental e a ideia dos cinco bairros — Bom Jardim, Canindezinho, Siqueira, Granja Portugal e Granja Lisboa — como uma região integrada através da identidade local e das lutas sociais.

Como a essa altura eu já trabalhava com mapas no O Povo, usei meu conhecimento na área para apresentar geograficamente a região, indicando inclusive a visão de pertencimento que eu sabia ser a dos moradores à época.

Para dar força à ideia de região, apresentei o mapa com os cinco bairros que formam o Grande Bom Jardim

A área mais clara é a que os moradores realmente consideravam à época como Brande Bom Jardim. Na visão deles as áreas em cinza faziam parte de outros bairros

Como marca do projeto eu usei minha segunda representação da ponte do Bom Jardim, dessa vez uma versão estilizada, transformando-a em um ícone que pudesse representar não só o evento, mas a própria região.

A ponte como ícone


Até meados dos anos 2000, a atuação do Instituto Brasil Verde ficou focada quase que totalmente no Grande Bom Jardim, tendo como ação mais marcante as gincanas ambientais, metodologia dinâmica e divertida para promover temas de educação ambiental e cidadania.

Além disso, participei tanto como indivíduo quanto como representando do Instituto Brasil Verde, de diversas ações, fóruns e articulações do agora consolidado Grande Bom Jardim. E mesmo com a expansão da área geográfica de atuação do Brasil Verde, permaneci atuando localmente, inclusive na parte ambiental.

Alias, foi a partir de um projeto local, o Pulmão Verde do Siqueira, que idealizei um outro grande projeto, a Jornada em Defesa das Áreas Verdes de Fortaleza, história que eu conto nesse post.

A memória do Bom Jardim

Um outro projeto que desenvolvi meio que em paralelo a tudo foi o Banco de Dados do Bom Jardim. Como bom canceriano eu gosto de guardar coisas e relembrar o passado. Comecei guardando o suplemento do O Povo sobre o bairro e a ele fui juntando recortes de jornal, impressos, cartazes de eventos locais e tudo o mais que eu pude ao longo de uns 15 anos, formando um acervo considerável. Permaneci recolhendo e guardando materiais até me mudar pela primeira vez em 2008.

Quando não tive mais como colher novos documentos, guardei o acervo e o conservei como pude até 2012, quando surgiu o projeto do Ponto de Memória do Grande Bom Jardim, uma espécie de museu local, gerido pelo Centro Herbert de Souza. Após conversações com a coordenação, fiz a doação de todo o acervo para o Ponto de Memória, incluindo minha pintura representativa da ponte, de 1994.

Momento de oficialização da doação do meu acervo para o Ponto de Memória, em novembro de 2013

Agora que estou de volta ao bairro, é bastante provável que eu tenha alguma boa ideia e crie mais um projeto local. Por enquanto vou me reencontrando com as pessoas e vendo o que há de novo por aqui. Tem muita água do Rio Maranguapinho pra passar por baixo da ponte do Bom Jardim e não faltarão novas histórias pra contar sobre essa região do mundo que faz parte de mim.

Pra fechar o post, que ficou bem longo, minha mais recente representação da ponte, no Estilo Elinaudo, que, a convite do amigo Elizeu de Sousa, fiz para o Movimento de Saúde Mental Comunitária no finalzinho do ano passado.

A ponte no meu coloridíssimo Estilo Elinaudo

E a qualquer hora sai uma nova versão da ponte. :)


Elinaudo Barbosa

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Quadrinhos, trocadilhos e nerdices

Neste mês de julho tive a oportunidade de conhecer alguns dos meus colegas quadrinistas daqui do Ceará. Primeiro conheci pessoalmente o Rafael Tavares, criador dos Invictos, que foi entregar pessoalmente a revista do grupo que eu ganhei no sorteio do Sabatina Geek do qual ele participou.

O Sabatina Geek é um programa ao vivo feito via Youtube pelo grande Demétrio Guimarães, onde são entrevistados quadrinistas de todo o Brasil. É praxe os entrevistados sortearem quadrinhos e desenhos entre os internautas que estejam assistindo ao vivo. Eu já ganhei uma revista do Carlos Henry, quadrinista da Paraíba, e mais recentemente, a revista dos Invictos, do Rafael Tavares, que veio me entregar pessoalmente e bater um animado papo sobre nossos universos de super-heróis.

O pretexto foi a entrega da revista dos Invictos, que ganhei no sorteio do Sabatina Geek

Como larguei os quadrinhos no final da adolescência e só retomei recentemente, sou um novato na turma, tanto local quanto nacionalmente. Acabei conhecendo primeiro o pessoal de outros Estados, através do contato virtual — como é o caso do próprio Demétrio — e só agora estou conhecendo meus conterrâneos.

Uma semana após conhecer o Rafael, tive o prazer de conhecer também o Adriano Sapão (que eu achava que era de algum Estado do Sudeste), o Daniel Siqueira, o Thiago Sousa e o Samuel Freire, do canal Função Nerd.

Um mega crossover de autores de trocadilhos

O papo foi ótimo. Falamos de quadrinhos, personagens, universo e, claro, teve muita piada e trocadilho, afinal era uma ruma de nerd cearense reunido e o nosso humor típico não poderia faltar. Desse crossover de trocadilhistas virão certamente parcerias que resultarão em boas histórias para os leitores e fãs que acompanham nossos personagens e universos.

Pra riba e avante!