De volta ao Bom Jardim
A primeira vez que morei aqui foi em um curto período lá pelos 4, 5 anoa de vida. Depois passei alguns anos no interior e voltei em 1986, aos 10 anos de idade. Daí então morei continuamente até 2008, depois alternando períodos aqui e períodos em outros lugares. Mas mesmo quando fiquei fora nunca cortei totalmente minhas ligações com o social daqui. No período mais longo, quando morei em outro bairro de Fortaleza, mantive minha ligação com o movimento pela criação/efetivação do Pulmão Verde do Siqueira e ministrei aulas e oficinas para os jovens do Grande Bom Jardim.
E fiz novas representações da ponte, somando até agora cinco versões diferentes (se não errei a conta) desse ícone do BJ, sendo uma delas em uma história em quadrinhos que ainda está em produção. Essa é um misto de memória e imaginação, pois representa o que seria a ponte e seu entorno em 1986. Se um dia for feita uma série de TV contando minha infância, o texto de abertura vai iniciar com "Bom Jardim, 1986". :)
Esse quadrinho, que faz parte de uma HQ que ainda estou produzindo, é uma imagem do que seria a ponte do Bom Jardim quando cheguei aqui em 1986 |
Muitos anos de atuação social e voluntária
Hoje, 28 de agosto, é Dia Nacional do Voluntariado, data que me traz muitas lembranças boas, já que praticamente toda a minha atuação nas causas, movimentos e ONGs foi voluntária. Meus primeiros contatos com algo de social foram ainda no final dos anos 1980, mas me engajei mesmo no começo dos 90, quando me integrei ao movimento de CEBs da Igreja Católica, participando das atividades da Área Pastoral do Bom Jardim, além de participar de atividades dos movimentos estudantil e comunitário. Mesmo sem ainda conhecer conceitos como "desenvolvimento local", eu já tinha ali um grande desejo de contribuir para que meu bairro melhorasse social e economicamente.Em 1993 tive contato com o ambientalismo, através de um programa de educação ambiental do Projeto Sanear. A parte de educação ambiental era realizada pelo pessoal de uma ONG carioca, o Centro Cultural Rio Cine (atual CIMA) e logo me identifiquei tanto com a causa quanto com o pessoal, vindo a fazer amizade com alguns deles.
1994, meu último ano na Escola Júlia Alves Pessoa, foi um dos anos mais intensos, quando tive minha primeira grande ideia de projeto, a pesquisa do Rio Maranguapinho, que acabou vencendo a Feira Estadual de Ciências e inspirou outro grande projeto, esse de longa duração, o Instituto Brasil Verde, como conto nesse post aqui.
Com meus amigos pesquisando o Maranguapinho em meados de 1994 |
Do Bom ao Grande Bom Jardim
Foi nessa época movimentada que fiz a primeira representação da ponte de que tenho lembrança. Foi para a capa do suplemento O Povo Nos Bairros, do jornal O Povo. Fiz a convite do Ivonilo Praciano, que gostou e me convidou pra estagiar no jornal, onde acabei sendo contratado e trabalhando por dez anos, mas isso é história pra outro post :)Não tenho foto da época da pintura. Essa é de 2012, pouco antes de eu doá-la para o Ponto de Memória do Grande Bom Jardim |
Além do desenho da capa do suplemento, que era dedicado ao bairro onde o projeto acontecia, participei dos eventos e debates, que reuniam lideranças e representantes locais e representantes dos órgãos e poderes públicos. Eu gostei do formato e guardei a ideia de um dia realizar algo parecido.
Dentro do processo das CEBs, havia as áreas pastorais. Meu bairro compunha a Área Pastoral do Bom Jardim, da qual faziam parte outros bairros e comunidades com denominações não oficializadas. Eu não sei se fui o primeiro, mas certamente fui um dos primeiros a pensar em trazer esse enfoque de região para além da atuação pastoral. Avaliei que aquilo daria mais força e projeção para uma região periférica que precisava lutar por uma maior atenção do Estado e levei esse conceito de Grande Bom Jardim para o meu próximo grande projeto.
O Fórum de Qualidade de Vida
Criado o Brasil Verde, nosso foco inicial de atuação foi justamente a área do Bom Jardim e bairros vizinhos. E foi então que propus o primeiro grande projeto para a ONG recém criada, o Fórum de Qualidade de Vida do Grande Bom Jardim, realizado em 1999. Peguei minha inspiração no projeto do O Povo, acrescentei o enfoque ambiental e a ideia dos cinco bairros — Bom Jardim, Canindezinho, Siqueira, Granja Portugal e Granja Lisboa — como uma região integrada através da identidade local e das lutas sociais.Como a essa altura eu já trabalhava com mapas no O Povo, usei meu conhecimento na área para apresentar geograficamente a região, indicando inclusive a visão de pertencimento que eu sabia ser a dos moradores à época.
Para dar força à ideia de região, apresentei o mapa com os cinco bairros que formam o Grande Bom Jardim |
A área mais clara é a que os moradores realmente consideravam à época como Brande Bom Jardim. Na visão deles as áreas em cinza faziam parte de outros bairros |
Como marca do projeto eu usei minha segunda representação da ponte do Bom Jardim, dessa vez uma versão estilizada, transformando-a em um ícone que pudesse representar não só o evento, mas a própria região.
A ponte como ícone |
Até meados dos anos 2000, a atuação do Instituto Brasil Verde ficou focada quase que totalmente no Grande Bom Jardim, tendo como ação mais marcante as gincanas ambientais, metodologia dinâmica e divertida para promover temas de educação ambiental e cidadania.
Além disso, participei tanto como indivíduo quanto como representando do Instituto Brasil Verde, de diversas ações, fóruns e articulações do agora consolidado Grande Bom Jardim. E mesmo com a expansão da área geográfica de atuação do Brasil Verde, permaneci atuando localmente, inclusive na parte ambiental.
Alias, foi a partir de um projeto local, o Pulmão Verde do Siqueira, que idealizei um outro grande projeto, a Jornada em Defesa das Áreas Verdes de Fortaleza, história que eu conto nesse post.
A memória do Bom Jardim
Um outro projeto que desenvolvi meio que em paralelo a tudo foi o Banco de Dados do Bom Jardim. Como bom canceriano eu gosto de guardar coisas e relembrar o passado. Comecei guardando o suplemento do O Povo sobre o bairro e a ele fui juntando recortes de jornal, impressos, cartazes de eventos locais e tudo o mais que eu pude ao longo de uns 15 anos, formando um acervo considerável. Permaneci recolhendo e guardando materiais até me mudar pela primeira vez em 2008.Quando não tive mais como colher novos documentos, guardei o acervo e o conservei como pude até 2012, quando surgiu o projeto do Ponto de Memória do Grande Bom Jardim, uma espécie de museu local, gerido pelo Centro Herbert de Souza. Após conversações com a coordenação, fiz a doação de todo o acervo para o Ponto de Memória, incluindo minha pintura representativa da ponte, de 1994.
Momento de oficialização da doação do meu acervo para o Ponto de Memória, em novembro de 2013 |
Agora que estou de volta ao bairro, é bastante provável que eu tenha alguma boa ideia e crie mais um projeto local. Por enquanto vou me reencontrando com as pessoas e vendo o que há de novo por aqui. Tem muita água do Rio Maranguapinho pra passar por baixo da ponte do Bom Jardim e não faltarão novas histórias pra contar sobre essa região do mundo que faz parte de mim.
Pra fechar o post, que ficou bem longo, minha mais recente representação da ponte, no Estilo Elinaudo, que, a convite do amigo Elizeu de Sousa, fiz para o Movimento de Saúde Mental Comunitária no finalzinho do ano passado.
A ponte no meu coloridíssimo Estilo Elinaudo |
E a qualquer hora sai uma nova versão da ponte. :)
Elinaudo Barbosa
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