O ambientalista que virou quadrinista
O Elinaudo Raiz era ambientalista e vivia na rua atuando pela causa, já o Elinaudo Nutella só fica em casa fazendo quadrinhos e desenha a si mesmo na rua :D |
O contato com o tema ecologia e a pesquisa do rio Siqueira/Maranguapinho
Comecei a me interessar pela causa ambiental nos idos de 1993, quando tive contato com alguns membros do Centro Cultural Rio Cine (atual CIMA), ONG carioca que havia sido contratada pelo Governo do Ceará para executar a parte de educação ambiental do Projeto Sanear. Fui convidado como representante comunitário para participar de algumas reuniões e acabei me interessando muito pelo tema e participando ativamente do projeto.Nessa mesma época eu alimentava o sonho de levar um grande projeto que pudesse ser bem colocado na Feira Estadual de Ciências, que era realizada anualmente no antigo Centro de Convenções com projetos tanto de escolas públicas quanto privadas. A chance de uma escola pública da periferia ganhar era mínima, por falta de condições de elaborar projetos competitivos. Mas, animado com a temática ambiental, convidei alguns colegas e, com a ajuda do pessoal do Rio Cine, realizamos nosso grande projeto de ciências, a Pesquisa do Rio Maranguapinho. E, claro, não posso deixa de ressaltar aqui a importante atuação da professora Eunice Godoy, nossa militante das ciências, que todo ano levava as equipes da Escola Júlia Alves para participar da feira.
Parte do nosso grupo de pesquisa: eu, Roberto César, Chicão,e Nazaré, recebendo informações do técnico da estação de tratamento de Maracanaú |
Depois de meses de pesquisas, visitas a diversos pontos do rio, da nascente à foz conseguimos levar para a feira um dos estandes mais interessantes da competição, com painel de fotos, vídeo, maquete gigante do rio (que eu fiz de argila e precisava de 4 homens pra carregar), resultados de amostras de água, amostras de plantas, enfim, tudo que se tinha direito. E ganhamos! fomos os vencedores da categoria biologia (a mais próxima que tinha do tema ecologia).
Simone, eu (que na época pesava 49 kg) e Léa com nossas camisetas de expositores e nossas calças "santropeito" |
O Instituto Brasil Verde
Ainda durante a pesquisa do Maranguapinho começamos a pensar na ideia de fundar uma ONG ambiental, que fomos amadurecendo concomitantemente e demos o nome de Grupo Ecológico Brasil Verde. Após a pesquisa e o ano letivo (era meu último ano na escola secundária) começamos a atuar na região do Grande Bom Jardim, realizando eventos e participando de articulações locais, sempre buscando levar a temática ambiental para as discussões comunitárias. Só na virada dos 90 para os 2000 viemos a formalizar a ONG, que agora se chamava Instituto Brasil Verde e já tinha um nome e certa importância na área do GBJ. Depois fomos gradualmente expandindo a nossa área geográfica de atuação, até que alcançamos todo o município de Fortaleza e um pouco do Estado do Ceará com a realização das Jornadas das Áreas Verdes, ação que marcou os últimos anos de atividades do Instituto Brasil Verde e ajudou a deixar a marca da ONG na história da luta ambiental cearense.Foto "oficial" do encerramento da primeira Jornada pelas Áreas Verdes, em 2007, na minha época de cabeludo |
Em 2008, após a realização da segunda Jornada, encerramos nossa atuação institucional, mas mantivemos ainda o registro formal — em grande parte por insistência minha, pois eu ainda guardava a esperança de um dia voltar à ativa. Como isso não aconteceu ao longo de quase dez anos, resolvemos finalmente dar baixa no CNPJ e encerrar formalmente a instituição.
Mesmo com uma atuação marcada pelo voluntariado — nunca buscamos nenhuma linha de financiamento — conseguimos fazer a diferença na questão ambiental em Fortaleza. No Grande Bom Jardim ajudamos a levar o pensamento ambiental para muitos estudantes e moradores. Na cidade de Fortaleza, a iniciativa das jornadas pelas áreas verdes ajudou a construir e fortalecer a unidade no movimento em defesa dos parques e hoje temos como resultado vários parques oficializados.
Além disso, através do portal na internet Ecologia Online conseguimos um alcance ainda maior, mantendo contato e participando de redes nacionais onde se debatiam temas como educação ambiental, biomas brasileiros e políticas ambientais.
O fim de um ciclo e o começo de outro
Mesmo com o encerramento das atividades institucionais do Brasil Verde em 2008 eu ainda continuei pelos anos seguintes a participar de algumas ações na área de meio ambiente, só deixando de militar nessa área bem recentemente, de modo que o meu "ciclo verde" durou cerca de uns vinte anos.Participando do ato de oficialização do parque Lagoa da Viúva - Pulmão Verde do Siqueira, em novembro de 2015 |
O interessante é que quando me voltei para a área ambiental eu estava meio que abandonando um anseio um pouco mais antigo, o de desenhar quadrinhos de super-heróis. Após criar vários personagens, alguns em co-criação com o Erivando Costa, cheguei à conclusão de que eu nunca teria paciência para desenhar histórias em quadrinhos, pois o processo era repetitivo demais (principalmente naquela época, onde tudo tinha que ser feito diretamente no papel).
Agora, após me desligar da militância ambiental, voltei à ideia dos quadrinhos de heróis e fiz as pazes com a repetitividade do processo de produção das HQs, especialmente depois que dominei as ferramentas digitais.
O ciclo mudou e o ambiente também. Agora estou sempre em casa, rodeado de gatos, desenhando quadrinhos |
O lançamento da EB Comics em 2015 e o tanto que tenho estudado e procurado me aperfeiçoar nos quadrinhos me trazem a certeza de que esse novo ciclo que começou há pouco vai durar tanto ou mais que o anterior. E se lá eu consegui fundar uma ONG e deixar uma marca na história do ambientalismo cearense, aqui eu quero fundar uma editora e construir uma marca nos quadrinhos brasileiros.
Então senta que vai ter história!
Elinaudo Barbosa
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