Zé Gotinha contra o Capitão Arminha
Ontem, 21 de março, fez três semanas que enterrei meu pai em um caixão lacrado. Como eu disse no post anterior, ele foi vítima do descaso, pois se tivesse tido um leito de UTI a tempo, poderia ainda estar vivo. Mas também sei que se não tivéssemos na Presidência da República um indivíduo com claras e declaradas intenções assassinas, meu pai poderia ter sido vacinado a tempo e não teria passado por tudo o que passou.
Vacina já, canalha genocida! |
Não retiro nada do que disse no post e nas entrevistas que dei sobre o descaso do sistema de saúde pública daqui do Ceará para com meu pai. Mesmo tendo pego a covid e sendo idoso como era, poderia ter se recuperado se tivesse tido a atenção adequada e o devido respeito ao Estatudo do Idoso. No entanto o adoecimento dele, assim como de tantas outras pessoas que hoje agonizam em um sistema de saúde sobrecarregado, poderia ter sido evitado não fosse o comportamento criminoso do presidente da República e de seus asseclas e bajuladores.
Além do discurso negacionista, das aglomerações e do gasto de dinheiro público com medicamentos sem eficácia, Bolsonaro recusou ofertas de vacinas que se fossem aceitas teriam permitido o início da imunização bem antes do que ocorreu e com muito mais doses. A recusa em aceitar as ofertas antecipadas dos laboratórios e a guerrinha ideológica contra a China resultaram em um atraso no início da vacinação que foi determinante para meu pai e tantos outros idosos adoecerem. No caso dele, ainda cheguei a inscrevê-lo para ser vacinado, mas quando a vacina finalmente chegou aqui, ele já tinha adoecido e logo foi internado para viver seu calvário.
Seis meses de enrolação e gerrinha ideológica |
Não bastasse ter ocasionado a morte de tanta gente, o canalha presidente ainda apareceu, poucos dias depois de eu ter enterrado meu pai, desdenhando do luto de quem perdeu pais, mães, filhos e amigos. Tive até que passar uns dias sem ver notícias e nem vi na data as últimas matérias que saíram sobre o caso do meu pai, tamanha a raiva e sensação de impotência diante da canalhice tanto do genocida quanto dos "cidadãos de bem" que ainda o apóiam e fazem passeatas da morte maculando as cores da bandeira nacional.
O herói que dá um soco no vilão
Se você não entendeu a referência, a arte do Zé Gotinha dando um soco no canalha que desdenhou do meu luto e do de tantos outros que perderam familiares e pessoas queridas é inspirada na capa da primeira revista em quadrinhos do Capitão América, publicada em 1941 nos EUA. A capa, uma das mais conhecidas e icônicas dos quadrinhos, traz o herói dando um soco em Adolf Hitler.
Capa de Captain America Comics #1 de Joe Simon e Jack Kirby |
Como no Brasil as coisas tendem a ser meio às avessas do padrão civilizado, aqui o capitão é que é o vilão, que ao invés de defender seu povo o leva à morte. Zé Gotinha, personagem que representa a vacinação personifica a todos que se unem no esforço heróico de enfrentar não só a pandemia do vírus, mas também o vilão e seus aliados, que insistem em sabotar todo esforço de salvar vidas. No escudo do herói, botei o símbolo do SUS, nosso Sistema Único de Saúde, que, apesar das falhas como a que matou meu pai, tem sido a salvação de muitos brasileiros. Sem o SUS, tão perseguido pelos "liberais na economia e conservadores nos costumes", o número de mortos seria ainda muito maior.
Essa arte que fiz representa toda a revolta que senti e ainda sinto contra esse sujeito e sua política de morte. Acredito que ela possa representar também a raiva e a dor de tantos brasileiros que hoje choram a perta de seus entes queridos ou estão desesperados nas portas dos hospitais procurando UTI e até oxigênio para que seus parentes não tenham o mesmo destino que meu pai teve.
O Bem há de vencer!
Elinaudo Barbosa
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