"Curtindo a Vida Adoidado" - quando a tradução atrapalha a mensagem
Salve Ferris! |
Embora sendo apenas mais um dos trocentos filmes americanos de adolescentes na escola (que eram moda nos anos 80), esse é sem dúvida o mais lembrado desse gênero por quem é da minha geração. O filme conta um dia na vida do adolescente Ferris, que resolve recorrer a um expediente bem comum para muita gente, fingir estar doente para faltar à escola ou ao trabalho. Só que o jovem Ferris não só tira o dia para si, como aproveita muito bem aquele dia com sua namoradinha Sloane e ainda consegue convencer seu cunhado depressivo, Cameron, a ir junto.
Curtir a vida também é ir ao museu! |
Eu não sei qual seria a melhor tradução para o título "Ferris Bueller's Day Off", mas acredito que a versão brasileira foi uma das piores possíveis. Claro que tem a questão do apelo comercial, de ter que ser um título fácil de ser entendido, mas na minha opinião o título dado aqui comprometeu seriamente a mensagem de Ferris para os nossos adolescentes da geração X.
A tradução portuguesa, apesar de ainda não ser fiel, ficou menos pior |
Com o nome recebido no Brasil, o filme acaba passando uma ideia de que o legal é ser o famoso "porra louca", que larga tudo em nome de sair curtindo a vida de maneira inconsequente. Na minha opinião não é isso que Ferris quer transmitir quando aparece no filme quebrando a quarta parede e dizendo diretamente para o público que "a vida passa muito depressa, se não parar para curti-la de vez em quando, ela passa e você nem vê".
O que ele diz ali é que você pode continuar fazendo suas coisas, estudando, trabalhando, só não pode se deixar engolir pelo sistema como a maioria faz. O que você precisa — e é isso que Ferris explica e demonstra — é usar de uma certa malandragem para driblar as amarras do sistema e assim conseguir suas pausas para curtir a vida.
Ferris é um malandro, e como bom malandro ele dá sempre um jeito de tornar as coisas mais fáceis e muito mais divertidas, fazendo tudo com muito charme, tanto que na escola todos gostam dele, a ponto de sempre ter um "Salve, Ferris" dito ou escrito em algum lugar. E como bom malandro, tem muita ousadia e cara de pau para conseguir subir num carro alegórico no meio de um desfile onde ninguém o conhece e cantar (ou dublar) Twist and Shout.
Só nos filmes que todo mundo sabe a coreografia sem precisar ensaiar |
Em um mundo onde as pessoas estão se tornando todas workaholics, é preciso aprender com os malandros como Ferris Bueller a viver com mais leveza, a desapegar das obrigações do trabalho para poder viver a vida antes que ela passe por nós e a gente nem veja de tão ocupado que está. Você é muito mais do que seu trabalho e suas obrigações.
Agora, se você estava até hoje achando que o o filme dizia para largar tudo e sair por aí curtindo a vida adoidado, sugiro que assista de novo e preste atenção no que o Ferris realmente quis dizer com fazer pausas (day offs) para não deixar a vida passar sem ser percebida. ;)
Curta com parcimônia
Curta com parcimônia
Tem um detalhe nesse filme que eu não sei se você ou se alguém reparou: Ferris consegue fazer tudo isso sem beber uma gota de álcool! Ferris é mesmo o cara!
Malandro é malandro, mané é mané! |
Não que eu não beba, não que eu tenha moralismos com álcool ou mesmo com outras drogas. Eu só acho que curtir a vida não é sinônimo de encher a cara como pregam tantas músicas do atual cancioneiro popular e nem precisa ficar doidão a ponto de não lembrar de manhã o que fez na noite anterior. Pra curtir de verdade tem que ter moderação. Afinal, como diz Mainha, tudo demais é veneno.
Salve, Mainha!
Elinaudo Barbosa
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